O encontro

O rasgar do peito mostra o sangrar lento,
da dor que é está só.
O arrepio que abre espaços nas entranhas,
permitindo o frio entrar, se aconchegar e ficar...
Dói.
Simplesmente dói.
Mas não é o doer da ferida aberta, onde estão sempre pondo o dedo.
Não.
É o doer da ferida aberta que agora cicatriza, finalizando um ciclo.
Mostrando que o estar só é a melhor companhia
E que o cicatrizar dói mais do que o magoar, por se saber que em pouco tempo isso não passará de uma cicatriz esquecida que vai diminuir de tamanho com o passar do tempo enquanto a epiderme for se reconstituindo... e em alguns anos ninguém nem mesmo você saberá como a conseguiu...
Enquanto magoava, se lembrava...se revivia...se tinha a esperança de não virar quelóide, de ser apenas um arranhão...que iria sarar...
E não deixaria marca alguma em sua pele e você viveria sua hipócrita vida fingindo ser uma pessoa amada e feliz.
Até que a realidade bate a sua porta, sorri para você e te convida a viver...
Viver.
Viver coisas pessoas sensações desapegos que você nunca viveu...
E você se apaixona por ela...se apaixona pelo ser que ela mostra no espelho à você...
Se apaixona por aqueles olhos tímidos, tristes, esquecidos, aquele sorriso de canto de boca...
Como alguém pode ser tão perfeito pra você como este ser do outro lado do espelho...e você se pergunta como este ser pode estar só, sendo tão lindo...
E todos os dias você passa a visitá-lo, e se encanta por ver que com suas visitas frequentes, os olhos daquele ser tímido, ganha um brilho que ilumina seu dia por completo.
Se encanta por ver que ele não é mais tão tímido...se encanta com sua voz, com suas conversas, com sua história...
Se apaixona por cada curva presente naquele corpo, por cada movimento dançado, por cada palavra pronunciada, por cada silêncio pairado no ar enquanto vocês se fitavam...
E não entende e compreende por não entender o quanto você ama aquele ser, por ele conseguir te escrever, te ler, como ninguém nunca conseguiu ou tentou antes.
E todos os dias você espera ansiosamente o momento em que vocês irão se encontrar novamente...
E aquele frio congelante, passa a ser um frio na barriga provocada pelas borboletas que voam em seu estômago na ansiedade de serem postas pra fora no momento em que vocês se olharem...
E ele por sua vez te espera...te espera com a impaciência de uma criança recém-nascida que anseia pelos braços da mãe que o acolherá e o acalentará, de uma forma que braço ou abraço nenhum será capaz.
E ele espera ansiosamente para simplesmente te dizer o quanto sua presença é agradável...sua aparência desejável...
Este é exatamente o momento em que você se percebe como um alguém, você se descobre...e você encontra alguém que te ama extamente da maneira que você é...
E entende que aquela cicatriz foi necessária, para que um dia você crescesse e encontrasse este ser, que faz você se sentir única.
Minha Lis...neste momento...
Neste momento você ganha asas, voa, dança divinamente como as flores na sua valsa das madrugadas da primavera, canta como os pássaros alegremente toda manhã, sorri o riso mais lindo que uma mãe pode dar ao conceber seu primeiro filho, encanta a todos com o mais simples olhar...
Diante disso o que mais posso falar, senão...
Seja bem vinda a sua vida, seja bem vinda a você!

Avesso do inverso

É engraçado como todas as tentativas de te arrancar de mim...

De te tirar das minhas memórias...

Todas as tentativas drásticas foram frustradas.

No momento em que eu te aceitei como parte de mim,

No momento em que eu percebi que não dava mais pra ser um,

Sem ser nós.

No momento em que me dei por vencida,

Vencida, sendo vencedora junto com o amor ao meu lado.

Foi justamente neste momento, que eu não consegui te ver perto de mim.

No momento em que tu me desejastes, no momento em que tu me abraçastes...

E estivestes totalmente disponível....

Totalmente disponível para mim.

Totalmente ao meu dispor...

Foi exatamente o momento em que eu não te quis.

Foi exatamente o momento em que eu mais quis te ver partir.

Perdoa se por tanto tempo quis te acostumar à minha presença,

E neste momento em que te acostumastes, que não sabes mais viver sem mim,

É o momento em que eu não consigo mais viver ao lado teu.

Nessa tua tentativa de me convencer a viver com a tua ausência,

Conseguistes...

Na minha tentativa de te fazer viver com a minha presença,

Consegui...

Somos os dois vencedores das tentativas frustradas de sempre ir ao extremo,

e de no final consegui exatamente o contrário...

No final ser exatamente um o que o outro queria e não ser mais nada que se agradassem.

Desculpa se aprendi a viver sozinha, foi assim que me ensinastes a ser.

Desculpa se a tua ausência para mim, é mais agradável que a tua presença ao lado meu.

Desculpa se teu cheiro já não me invade, já não me atrai.

Desculpa se teu cheiro em mim, só me causa repulsa.

Desculpa se ao contrário de você...

hoje a única coisa que procuro ansiosamente...

É a tua ausência bem próxima da minha presença.

Respirar vida

Cansada de estar aqui, 

sinto vontade de correr, fugir.. fugir de mim, 

me esconder dentre os outros, mas não consigo.

Tudo que consigo é afastar os outros e permanecer escondida em mim.

A minha companhia me atormenta a cada segundo que passo ao lado dela.

Ela tenta incansavelmente me cansar dos meus pensamentos, das minhas ações...das minhas faltas de ações. 

Não me suporto e neste desespero tento rasgar minha pele, para tentar respirar vida,

ao invés disso só chega o ar sufocante de tudo que me condena dentro de mim mesma. 

Experimento frustradamente arrancar pedaço por pedaço, cada parte que não me faz bem,

Cada parte de mim, que em mim não vive.

Cada parte de mim que a mim quer negar.

Que continua negando, negando até a minha vontade de negá-la. 

O ar vai se esvaindo me deixando apenas com a sua lembrança, 

fazendo meu coração acelerar no desespero de tentar trazê-lo de volta, 

de guardar algum resquício de vida dentro dos meus pulmões.

Mas a floresta que cresceu em meu corpo, 

faz com que eu me perca dentro do labirinto formado em  mim mesma, 

não permitindo nenhum diálogo...

me fazendo prisioneira deste eu que eu não conheço.

Criando uma impossibilidade totalmente possível de respirar vida.

 

Meu Pobre Dioniso

Porque você está perguntando por ele?
Não, não quero falar sobre...
Claro que ele foi embora, viu algum rastro de alegria dentro deste mausoléu?
Não, não mora mais aqui....Hoje apenas eu habito este jazigo.
Triste?Porque eu ficaria? Por ele ter sido o único em minha vida, e hoje ser o que atormenta minha morte?
Não, não tenho tristeza, até compreendo...pobre coitado, quem aguentaria viver ao...

Pena de mim?Não, não precisa. 
Olha pra mim, ta vendo alguma coisa atrativa que pudesse fazer qualquer homem feliz?
Muito menos ele, ele que não é apenas um homem... ele foi o homem....
Claro que já fui um parque de diversão, onde ele perdia os minutos, as horas, o dia, o trabalho e não se cansava de percorrer as suntuosas curvas que meu corpo permitia que ele deslizasse, que ele se perdesse e se encontrasse...
Eu era Deusa, ninfa, fada, eu era a sua vida, era o que lhe mantinha aceso, aceso nos dois sentidos mesmo, não deixava ele quieto, e..e..e sempre incentivava ele em tudo. Tudo, tudo até que...
Ele percebeu que minhas curvas estavam um pouco, quadradas, que ele já não deslizava nelas, mas somente caía, caía no tédio...no tédio de ter que está ao lado de um ser...de uma mulher como eu.
Ah, mas eu entendo, quem iria querer deitar e dividir seu tempo com uma mortal depois de ter conhecido os poderes de uma Deusa?
Quem se contentaria com um ser encanecido, depois de ter desfrutrado de toda vivacidade existente em uma ninfa?Ah porque eu tinha o ardor.. eu tinha o fogo que ele tanto gostava...eu tinha todos os encantos de uma fada, eu era a seiva que alimentava todo o tronco da árvore da vida que era dele...só dele...
.....
E é por isso que digo a você, que não estou triste, eu o entendo perfeitamente...meu Dioniso...sinto tanta falta das noites em que loucamente tomada pela sua imagem a minha frente eu dançava pra ele, deixava ele louco...e por mais que eu tentasse, era sempre ele que me dominava...e me deixava satisfeita com aquele delírio mistíco, que só conheci com ele...
Talvez tenha sido isso...nunca tinha parado para pensar...mas agora...agora...agora percebo que apesar de tudo, acho que no fim das contas...só eu fiquei realmente satisfeita.
Ele coitado...hoje não tem um mausoléu para perambular, um jazigo para descansar, lembranças boas para recordar, e vive por aí a procura de ninfas que possam e queiram tentar satisfazê-lo, mas aviso logo...que não é fácil...ele é Dioniso...e ele está acostumado com uma Deusa ao seu lado...
E eu? Eu vivo a minha morte... mas tenho boas lembranças que me assombram e me deixam culpada...por não ter conseguido satisfazer o coitado, e ele ter que ainda hoje procurar uma ninfa.
Procurar uma ninfa...pra se perder e se encontrar em suas curvas...
Mas pobre homem, não percebeu que nessa tentativa de se encontrar, nas suas próprias esquinas se perdeu.

Morrer em vida_

É como se a vida estivesse morta.
O Sol tivesse apagado...
A Lua se tornado um clarão...
 Mas não foi para me tirar da escuridão.
Foi para encandear minha visão,
Me impedir de enxergar toda e qualquer coisa que pudesse me fazer bem.


Tento correr...fugir..te encontrar em algum lugar.
Mas tudo que encontro em cada esquina que dobro...
É tua ausência fazendo companhia a minha solidão.


Alguém com um cilindro de oxigênio...
Sinto-me sufocar.
A cada momento que se passa
Um pedaço de mim vai junto.
O tempo parece querer arrancar cada memória em mim existente,
para lhe fazer companhia na sua passagem..
                                                             ...SUA IDA.


Minha pele é arrancada, na tentativa frustrada de tirar-te por completo das minhas memórias.
Quase vejo o sangue pingar,
Mas não consigo, teu sorriso teima junto com a Lua em encadear minha visão.
E tudo que posso sentir é o rasgar do meu peito, enquanto tua imagem vai se reunindo com tudo que me ofereceste,
E embaçando ainda mais meus olhos.
Teimo em querer ver algo, mas tudo que consigo é sentir
que estou definhando, estou me esvaindo de mim mesma.
É como se tivesse a sensação de morrer em vida..
Tudo em me já está morto...mas minha alma, permanece para provar do martírio
Que é viver com a falta e a lembrança do teu sorriso,
sorrindo alegremente para minha tristeza, que teima em querer te olhar..
e não consegue fazer outra coisa a não ser pensar...
Lembrar...
Constatar...
Que dois e dois são um.
E na falta de um, o outro não é ninguém ...
É conjunto vazio...
Vazio...
Vazio...
Vazio cheio de falta de vida, de ar, de querer...
                                                                      DE VOCÊ.

... NADA...

Nada...
Um ser resumido a nada, 
pelo simples fato de amar demais,
por respeitar demais,
pagaste o preço de virar Nada.
De Tudo viraste Nada, quatro insignificantes letras,
que significam tanto, por simplesmente deixar claro que não és
outra coisa a não ser ...
Nada.

Por Voce !

Porque não vais?

Porque teimas em ficar?

Porque teimo em te querer?

E essa saudade?

Esse cheiro que me invade,

Toma meu corpo por completo,

Euforia, nostalgia, culpa.

Teu cheiro que antes dormia em minhas memórias,

Hoje acorda, desperta meu ser.

Tira-me o fôlego

Faz-me querer pular, parar.

E apenas sentir

Uma vontade de me deixar dominar

Cada segundo mais te aspiro,

Sugo-te...

Quero teu cheiro morando em meus pulmões.

A lembrança chega acalentando

A lágrima vem acariciar o rosto que antes se acostumara com a brisa.

Outra vez o cheiro chega,

Dessa vez acalentando

Chega ninando, tudo vai voltando ao seu lugar.

Teu cheiro outra vez vai me deixar.